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Lourival Ferreira Coimbra, meu querido avô materno, jamais pisou em Sarajevo. Descendente de portugueses e italianos, passou a vida quase inteira no Rio, onde casou-se, teve dois filhos, três netos e ajudou muita gente no seu ofício de psiquiatra e psicanalista, até seu falecimento precoce, em 1995, com 67 anos incompletos. Então, como é possível que a banda Bijelo Dugme, a mais popular do rock iugoslavo nos anos 70 e 80, tenha se inspirado na história dele para compor o clássico ‘Selma’?

Bijelo Dugme (“Botão Branco”) foi formado no início dos anos 70, em Sarajevo, reunindo cinco membros das diferentes etnias que compunham a antiga Iugoslávia. Dois deles eram considerados a alma da banda. A cara do grupo era Željko Bebek, de origem croata, um cantor performático, de amplo alcance vocal. Acostumado a liderar bandas desde o início da adolescência, Bebek, que hoje vive em Zagreb e mantém uma sólida carreira solo no pop-folk, abraçou o projeto após voltar do serviço militar obrigatório. Seu grande parceiro foi o guitarrista Goran Bregović, de pai croata e mãe sérvia, a alma musical da banda. Estudioso das raízes culturais dos Bálcãs, Brega, como é conhecido, hoje é um premiado autor de trilhas sonoras, com destaque para vários filmes do diretor e também músico Emir Kusturica e outros títulos do cinema francês e italiano. Com seu estilo sem palheta, usando os dedos da mão direita, à la Mark Knopfler, Bregović compôs melodias e letras que ajudaram o Bijelo Dugme a se tornar a banda de rock mais popular da antiga Iugoslávia.

Bijelo Dugme em 74: Vlado Pravdić, Zoran Redžić, Goran Bregović, Željko Bebek, Ipe Ivandić

‘Selma’ aparece já no primeiro disco, ‘Kad bi’ bio bijelo dugme’ (“E se eu fosse um botão branco”). Narrada em primeira pessoa, a letra conta do drama de um homem apaixonado que não consegue se declarar para a sua amada. Enquanto carrega os pertences de Selma, que espera a partida de um trem para ir à faculdade, o gajo pensa em várias coisas bonitas, sedutoras e inteligentes para expressar os seus sentimentos. Na hora do embarque, porém, a única frase que sai é: “Adeus, Selma, por favor, não debruce na janela”.

A letra de ‘Selma’ foi escrita pelo poeta iugoslavo Vlado Dijak, que, em 1949, vivia em Zenica e nutria um amor platônico pela jovem Selma Borić (algum parentesco com o presidente chileno?). No dia da despedida, quando a moça estava de partida para fazer faculdade em Sarajevo, Vlado carregou suas malas, encheu-se de coragem, mas tudo o que conseguiu dizer foi aquele insosso pedido para ela ter cuidado durante a viagem.

Na primeira vez em que ouvi a ‘Selma’, já no fim dos anos 90, e consegui encontrar uma tradução inglesa para a letra com a ajuda da Internet, caí no choro. Meu avô já havia morrido havia alguns anos, mas estava descrita ali, com algumas, digamos, adaptações, uma das histórias mais comentadas da minha família materna. Também nos anos 40, só que no Rio de Janeiro, o jovem Lourival Ferreira Coimbra nutria uma paixão secreta pela bela Nilza Barcelos Machado, chamada carinhosamente no seio familiar de Moema. Ele, que não sabia o nome da musa, começou a esperar diariamente pelo bonde em que ela vinha, porém, sempre que subia, perdia as palavras e ficava só olhando para ela como um bobo. Certo dia, assustada com as encaradas daquele desconhecido tímido e magrelo, minha futura vó Moema pediu a um de seus irmãos, meu futuro tio-avô Valdir, para acompanhá-la de braços dados, como se fosse seu namorado. Quando viu o falso casal, Lourival sentou-se no meio-fio e desabou num choro copioso. Compadecida, Moema foi consolá-lo, e o resto é a nossa história.

Lourival, Moema e o primeiro neto do casal, eu mesmo (circa 1977)

Além de ter virado um do caso amplamente comentado pelos Coimbra, o episódio gerou um clássico bordão do vô Lourival, que adorava fazer piada consigo mesmo e era um dos caras mais gaiatos (para usar uma expressão recorrente dele) que conheci. Sempre que alguém dizia que tinha visto um bom filme ou lido um livro interessante, ele se antecipava: “Já sei! ‘O desprezo que sua mãe me deu’”.

Lourival e Moema tiveram dois filhos, minha mãe Sheila (por que não Selma?) e meu já falecido tio Renato, que teve dois filhos, meus primos Priscila e Rafael. Muitas vezes imaginei um roteiro do tipo ‘De volta para o futuro’, com o Lourival pegando o bonde errado ou afogando as mágoas num bar sem ser notado pela Moema e seu falso namorado. Será que a minha existência estaria em perigo? Acho que, assim como na ficção, no fim tudo se acertaria. A única diferença é que, na última cena do filme, em vez de ‘Johnny B. Goode’, a banda do baile tocaria ‘Selma’.

Clipe ao vivo de ‘Selma’

Versão de estúdio no Spotify

A letra original de ‘Selma’:

Selma

Putuje na fakultet

Ona putuje, ja kofer nosim, molim

Težak je al’ pošto njen je lično

Ja i taj kofer volim

Selma, Selma,

Zdravo, Selma

Putuj, Selma

I molim te, ne naginji se kroz prozor

Selma

Na ulasku u voz ti htjedoh reć’

Nesto nježno, sto izaziva pozor

Al’ rekoh samo zdravo, Selma

I molim te ne naginji se kroz prozor

Selma, Selma,

Zdravo, Selma

Putuj, Selma

I molim te, ne naginji se kroz prozor

Tradução livre:

Selma

A caminho da faculdade

Ela parte, carrego sua mala

É pesada, pois é dela

E eu também amo esta mala

Selma, Selma

Adeus, Selma

Vá, Selma

E, por favor, não debruce na janela

Selma

Enquanto você embarca no trem, queria dizer

Algo doce, que atraia a sua atenção

Mas eu somente digo adeus, Selma

E por favor, não debruce na janela

Selma, Selma

Adeus, Selma

Vá, Selma

Por favor, não debruce na janela

A prisão de Ratko Mladić, maior responsável pelo massacre de Srebrenica e arquiteto do cerco de 44 meses de Sarajevo, foi vista pela “comunidade internacional” como mais um gesto de “boa vontade” da Sérvia. A imprensa mundial foi unânime em dizer que o país deu um passo importante para se aproximar da União Europeia. Mas também ressaltou a demora em prendê-lo – o mandado de prisão fora expedido há 16 anos – e lembrou que outro criminoso de guerra, Goran Hadžić, líder dos rebeldes sérvios da Krajina, região croata de maioria sérvia até 1992, continua foragido.

Ratko Mladić, responsável pelo massacre de Srebrenica e arquiteto do cerco de Sarajevo, ainda é cultuado pela extrema-direita nacionalista sérvia da Bósnia

Os Cadernos Ultramarinos consideram deplorável essa tendência a satanizar os sérvios e culpa-los de todos os males da Guerra da Iugoslávia. Gesto de
boa vontade? Demora em capturar criminosos de guerra? Quem são os países que hoje criticam a Sérvia? A Espanha, que jamais puniu um só crime do franquismo, foi governada durante 40 anos por um dos maiores criminosos de guerra de todos os tempos e ainda está processando o juiz Baltazar Garzón por investigá-los?  Os Estados Unidos e a Inglaterra, que comandaram a destruição total do Iraque em busca de armas de destruição em massa e chacinaram milhares de civis? A França que promoveu um banho de sangue na Argélia nos anos 60? Onde estão o “gestos de boa vontade” desses governos para punir os responsáveis por todos esses crimes?

Paradoxalmente, o filme mais violento a que assisti em toda a minha vida me ajudou a humanizar os criminosos de guerra sérvios. Srpski Film (A Serbian Film), de Srđan Spasojević, narra a história de Miloš, um ator pornô em final de carreira, casado e com um filho, cheio de dívidas. Ele recebe um convite de um misterioso diretor de cinema e acaba assinando um contrato sem ler o roteiro. Nos primeiros dias de filmagem, Miloš descobre que está no meio de um snuff movie cheio de cenas de violência, estupros, pedofilia e necrofilia. O ator tenta fugir, mas é capturado e, dopado, acaba rodando todas as cenas
previstas no roteiro.

O resultado prático é o filme mais violento e chocante que vi em toda a minha vida, sem margem de dúvida, o que numa primeira leitura pode soar como um mero e desnecessário exercício de sadismo. A Serbian Film foi proibido em muitos países e mutilado – sem trocadilho – no Reino Unido. Na Espanha, foi banido do festival de San Sebastián e exibido no de Sitges, o que até hoje tem causado dor de cabeça para o diretor do festival, Ángel Salas, que enfrentou a ira dos neoinquisidores ibéricos. Considero quase impossível que o filme chegue às telas de uma nação puritana como a nossa.

Cartaz original do “Filme Sérvio”. Adoraria queimar a língua, mas arrisco dizer que a película nunca vai chegar a esta terra beata

No entanto, é fácil entender a mensagem passada por Spasojević. O medo da aniquilação e a implosão de um mundo que parecia inabalavelmente sólido levaram os iugoslavos (de todas as nacionalidades) a cometer crimes bárbaros. Crimes que à luz da razão pareceriam inconcebíveis. E o são. O filme não é indulgente com eles. Pelo contrário: mostra as duras consequências de cada ato e deixa claro que o torpor e o medo não podem servir de desculpa para atos de barbárie.

Nos tempos do comunismo, a Iugoslávia do Marechal Tito (Josip Broz, 1892-1980) era vista como um oásis por trás da cortina de ferro. O país tinha um nível de vida e liberdade muito acima dos seus vizinhos. Se hoje os emergentes têm alguma voz no mundo, em parte isso se deve ao Movimento dos (Países)
Não-Alinhados, fundado por Tito em 1961. Com o fim do comunismo, as seis nações que compunham a Iugoslávia (não conto a aberração chamada Kosovo) começaram um salve-se quem puder que desencadeou o que, ao lado da Guerra Civil Espanhola, foi o conflito mais fraticida da história da Europa.

Sou admirador da história do bravo povo sérvio, da sua história de luta contra a aniquilação, de resistência contra os otomanos e, mais recentemente, contra
os nazistas. Um povo que foi covardemente bombardeado pela OTAN em 1999, sob o pretexto de deter o massacre de albano-kosovares. A mesma “comunidade internacional” que atacou a Sérvia tinha fechado os olhos nos três anos anteriores para as atrocidades cometidas pelo Exército de Liberação de Kosovo, que destruiu igrejas e mosteiros ortodoxos da região, arrasou vilarejos e aterrorizou a minoria – que 100 anos antes era maioria – sérvia da região.

Toda essa minha admiração jamais vai me impedir de reconhecer e repudiar os crimes de guerra dos sérvios e vibrar com cada assassino capturado. Mas não dá para esquecer que hoje a República de Kosovo, reconhecida por 75 países da “comunidade internacional”, tem como primeiro-ministro um carniceiro chamado Hashim Thaçi, ex-líder do ELK, acusado de inúmeros crimes, entre eles o tráfico de órgãos de prisioneiros de milícias sérvias.

Enquanto cada um justificar a sua cota de violência, o mundo vai continuar como está, sem rumo. Assista ao filme de Spasojević (veja aqui o trailer legandado em inglês), não tenha medo de se reconhecer um pouco e diga-me depois se Srpski Film não deveria se chamar Univerzalan Film.

Gordon Gekko, personagem de Michael Douglas, sai da prisão com uma bolsa na mão direita e um pacote na esquerda. Um plano em travelling dá um close no seu rosto e a imagem funde-se com um plano aéreo noturno de Nova Iorque. Uma voz igual à do síndico do meu prédio, que se supõe que seja a do personagem, diz:

 — Alguien me recordó que tiempo atrás dije: la ambición es buena. Ahora parece que es legal.
 

Quem acha que Michael Douglas é canastrão precisa ouvi-lo dublado em castelhano

E o locutor, também em espanhol, assina o anúncio da sequência do clássico de Oliver Stone Wall Street:
 
— Guol Estrit dos. El dinero nunca duerme.
 
Antes de vir morar em Madrid, já tinha ouvido falar na inabilidade dos espanhóis com idiomas estrangeiros. Pensava que fosse exagero, que passados 30 anos do fim das trevas da ditadura que isolou o país do resto do mundo os conhecimentos de línguas estrangeiras se tivessem difundido. Vinha de um país muito desigual, onde a maior parte dos habitantes não domina se quer a língua oficial. Mas no Brasil, qualquer cidadão de classe média tem pelo menos uma noçãozinha de inglês.

Uma semana depois de chegar, comecei a trabalhar na editoria de Esportes da Cuatro, uma emissora de TV aberta da Espanha. No meu terceiro dia, notei os colegas um pouco apreensivos durante o almoço. Quis saber o que havia e me contaram que era dia de aula de inglês. Perguntei se todos estavam no mesmo nível e me responderam:

— Sí, tío, nivel cero. Jajajajajajaja. 

Um anúncio encoraja os madrilenhos a perder o medo do inglês

Percebendo que toda a equipe do jornal da noite estava na mesma situação, perguntei o que acontecia quando era preciso traduzir  algo ou pedir alguma informação por telefone. A resposta:

— Le pedimos ayuda a un canadiense que trabaja en el Canal+.

— ¿Y si él no está?

— Pues jodidos estamos, chaval…

Ao longo de três anos, procurei entender por que os espanhóis têm tanta dificuldade não só com o inglês, mas com qualquer língua estrangeira. O motivo mais óbvio é a pobreza fonética do idioma castelhano. Uma vez, uns amigos tunisianos me explicaram que os árabes têm muita facilidade para aprender línguas porque a sua língua materna tem nada menos que 28 sons de consoantes. Pois o castelhano, somadas as consoantes e vogais, tem apenas 24 fonemas. E faltam alguns “clássicos”, como o “z” de zebra e o “v” de vaca. Por isso eles pronunciam palavras em inglês como reason e very como “rísson” e “bêri”.

A minha primeira professora de espanhol, Neli, uma senhora argentina que tinha mais de 30 anos de Brasil, declarava-se incapaz de perceber a diferença entre “avô” e “avó”. É que para eles cada vogal tem apenas um som. O “a” é sempre aberto, o “e” é sempre fechado, o “o” fica no meio do caminho e o “u” e o “i” são como os nossos. Ou seja, para eles, tanto “avó” quando “avô” soam como… “abô”!

Logo do Ano Xacobeo. A pronúncia do "x" do galego e do "sh" do inglês é um parto para um espanhol

O “x” e “j” também fazem falta, o que impede que um madrilenho possa pronunciar palavras em outras línguas ibéricas, como português, galego e catalão. Uma das principais entidades bancárias da Espanha é a catalã La Caixa, chamada pelos castelhanos de “La Caissa”. Para eles também é impossível pronunciar o nome Jordi, talvez o mais comum em catalão, que soa como “jórdi” e eles dizem “iôrdi”. O Ano Xacobeo, palavra galega que define os anos em que o dia de Santiago cai num domingo, vira “Sacobeo” para um espanhol. E é claro que há muito tempo José Mourinho foi rebatizado “Hossê Mouriño”.

Outra coisa que dificulta o aprendizado de línguas estrangeiras é o fato de eles praticamente só consumirem programas de TV e filmes dublados. Na televisão aberta brasileira, o cinema também é dublado, mas aqui até a TV a cabo dubla filmes. Em Madri, muitas vezes é difícil achar salas de cinema em VOSE (versión original subtitulada en español). Dos 40 cinemas da capital espanhola, só dez (25%) projetam películas no idioma original. Muito pouco para uma capital europeia cheia de estrangeiros. Os filmes que não são dublados são só os cult, ou seja, Jason, Terminator e companhia sempre falam um castellano castizo.

Cartaz da versão espanhola de Mogambo, dublada e "moralizada" pelos franquistas

A preferência nacional pelas versões dubladas não se deve só à preguiça de ler as legendas. Nos anos da ditadura católica de Franco, era muito mais fácil controlar o conteúdo dos filmes dublando-os. Na versão franquista de Casablanca (1942), Rick (Humphrey Bogart) não lutou ao lado dos republicanos na Guerra Civil espanhola, mas sim contra a anexação da Áustria por Hitler. Em Mogambo (1953), Grace Kelly e Donald Sinden deixam de ser marido e mulher para serem irmãos, um recurso que ocultou que a personagem principal le ponía cuernos com o irresistível Clarck Gable.

Não gostamos muito de Vicky Cristina Barcelona, mas divertimo-nos muito com os diálogos entre Javier Bardem, Scarlett Johansson e Penélope Cruz, quando María Elena, personagem da “Pe”, insiste em falar em espanhol e Juan Antonio (Bardem) pede que ela volte ao inglês para que Cristina pudesse participar da conversa. Ficamos imaginando como teriam ficados esses diálogos na versão dublada

Outro fator que dificulta falar inglês, segundo me contam os meus amigos espanhóis, é a forma como o idioma é ensinado. Atualmente multiplicam-se as escolas bilíngues em Madri, mas nos colégios públicos o ensino de língua estrangeira é maquinal, baseado excessivamente na gramática, com poucas situações reais e com professores não nativos. Ou seja, como Brasil. Conheço espanhóis que sabem muito inglês, mas têm vergonha de falar por causa do forte sotaque.

Se você disser a um espanhol que o "You two" vai tocar em Madri é provável que ele não entenda

Aliás, esse é outro problema: a inibição. Aqui, pronunciar bem acaba sendo sinal de pedantismo. Pega mal dizer “uai-fai” para wi-fi, por exemplo. Soa pedante. O normal é dizer “güífi”. Nomes de bandas como AC/DC e U2 mesmo na TV e no rádio são pronunciadas como “acedecê” e “u-dos”. Mónica, uma madrilenha, uma vez argumentou que estaria bien dicho porque si tiene una “u” y un “2” es “u-dos”.

— Mas aí o jogo de palavras original do inglês se perde… — expliquei.

—  ¿Qué juego de palabras?

A pronúncia “especial” dos espanhóis causa situações curiosas, como a que nos contou Daniel Kaz, nosso companheiro de apê nos primeiros meses de Madri. Seu pai, quando viveu por aqui nos anos 80, uma vez estava conversando sobre música com um madrilenho, quando o cara comentou que o que mais lhe agradava era ouvir jazz. O pai do Daniel perguntou que tipo de jazz o sujeito ouvia.

¿Cómo qué tipo? ¡Jazz! Me encanta…Es mi banda preferida de rock progresivo.

Ou seja, ele pronunciava tão mal a palavra yes — em teoria, a primeira que aprendemos em uma língua estrangeira — que o pai do Daniel entendeu jazz.

Na Espanha, pode chamá-lo "djo-sai" que ele atende

Ocorreu comigo quando almoçava com colegas de trabalho. O assunto era animais de estimação. Comentei que só gostava de cães grandes, como pastores, labradores etc., pois os pequenos me irritam muito. Uma das minhas colegas, dona de um poodle, saiu em defesa dos minicães, dizendo que nem todos eram pentelhos como os “djô-sai”. Perguntei como eram os “djô-sai”, que pelo nome imaginava ser uma raça chinesa ou japonesa que eu não conhecesse. Era yorkshire

O cúmulo, mesmo, aconteceu quando, a pedido do globoesporte.com, fui fazer uma matéria no museu Real Madrid, pouco depois da contratação de Kaká. Participei de uma visita guiada em inglês. Não paguei, mas entrada custava 22 euros, seis a mais que a da visita libre, muito mais cara que a de qualquer museu de Madri. Durante cerca de uma hora, pobre da guia vomitou tudo o que decorou num inglês macarrônico e cada vez que alguém fazia uma pergunta se enrolava toda e pedia ajuda a mim ou a um turista mexicano. Claro que não ficamos com uma porcentagem dos 22 euros que cada visitante tinha pago…

Em um país fantástico cuja hoje claudicante economia depende cada vez mais do turismo, que recentemente superou Estados Unidos e Itália e só está atrás da França em número de visitantes por ano, é uma vergonha que o nível de inglês seja tão baixo.

maio 2024
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